respiro

Os dentes estão na boca. Brancos. Amarelos. Pretos. Estão para que mordam. Para que sintam o gosto acre da tinta vermelha abundante nos dedos e no rosto. Não é o mesmo gosto do sangue. A cabeça está aí para que isso se saiba. O gosto da tinta vermelha diz ao corpo da proximidade da morte, e envenena o corpo lentamente.
Se olhe no espelho do banheiro. E se alimente de tinta, vermelha ou preta. Aos poucos a pele vira plástico, e a emoção dizem que vira arte. Se aproxime assim, devagar, da morte. Como quem pede a mão em dança de uma mulher linda, cujo nome ninguém conhece.
O gosto é pior do que o do gin, mas funciona melhor.
Então ache algum utensílio delicado e afiado, e escreva seus melhores poemas no papel da própria pele. Vem para a superfície o sangue que sempre foi menos seu do que do mundo.
Esqueça seu nome. Esqueça quem veio antes. E o que há te de atrapalhar amanhã.
Deita nesse chão cor de terra. E esquece o mapa do próprio corpo.
Esquece. Esquece tudo.
Vamos descobrir tudo juntos,
até o vento virar sopro.













E transformar o vento em sopro.

horror

hoje eu abri os olhos como quem levou um soco. oco. profundo. no meio do peito da noite passada. hoje eu abri os olhos como quem bebeu muito. como quem se perdeu nos lugares escusos por onde andam os socos. anônimos, versáteis. hoje eu abri os olhos, mas não acordei. e quando por fim eu acordei eu fechei os olhos. eu segui pela cidade com todos meus instintos perdidos. domesticados em sinal vermelho. eu lembrei dela e quis colo. eu quis prolongar o calor do banho, quis prolongar a maciez da cama, do sono. quando nada funcionou eu bebi café. e eu ainda tava sozinha. e eu passei pelo largo da batata e quis viver o passado de anteceder a solidão de deixa-la lá. eu chorei. mais uma vez. e gritei. e pedi para nunca mais viver essa dor. hoje eu abri os olhos como quem se enganou por muito tempo. ou os fechei.
não importa, a dor era a mesma.
e a ausência dela.

ser

eu pergunto daonde vem esse descompasso.
e escuto o silêncio.
o silêncio é o barulho de ser.


meu deus

O som da sala dimínui,
o menino-homem que joga serpentinas
anulado pela música triste que leva todas as coisas pro mesmo lugar.
Meus cabelos prendem os pedaços,
minha tristeza adormecida...
Ela longe e meu pensamento que sonha distâncias,
o tempo que passando não se aproxima de mim.
O sono como chave pra todas as portas.

do caio fernando abreu.

"OITAVO FRAGMENTO DA DÉCIMA TERCEIRA VOZ
Sempre virá. A solidão não existe. Nem o amor. Nem o nojo. Odeio quando te enganas assim, girando entre aspanelas. A vida é agora, aprende. Ainda outra vez tocarão teus seios, lamberão teus pêlos, provarão teus gostos. E outra mais, outra vez ainda. Até esqueceres faces, nomes, cheiros. Serão tantos. O pó se acumula todos os dias sobre as emoções. São inúteis os panos, vassouras, espanadores. Tenho medo de continuar. E não suportaria parar, ondas de lemanjá. Vês como evito pedir ajuda? Vieram da noite, eram muitos, assim compreendes? Talvez mais que doze, muito mais, incontáveis todos esses doze, já faz tempo. Às vezes sonho com eles. Com todos. Com quem nem conheço. Por um momento, cede. Fecha os olhos. Chafurda, chapinha. Afunda o rosto, solta a língua. Lambe os orifícios. Deixa a baba escorrer. Geme, cadela no cio. Como um macaco, acaricia teus próprios colhões. Estende tua pata peluda para o Outro, delicadamente. Cata os piolhos do Outro. Deixa que catem os teus. Esmaga entre os dentes, engole. Fala-me do gosto."

lar

Eu vi a mudança,
entendi como aquela aparência frágil de lar se constituia.
Eu vi os homens passando,
e senti o cheio forte deles.

Eles eram pais, filhos, maridos, namorados.
Eles trocavam as lâmpadas,
consertavam, seguravam, trocavam.
Eram Homens.

Eu vi tudo isso acontecendo.

Sei do começo o que permaneceu.
Eu vi o seu rosto,
de alegria e orgulho,
por compor em um espaço em branco uma improvável melodia
de segurança aconchego afeto.

A casa é a mesma,
mas há suas faces.
Há os animais que ela abriga,
os personagens que por ela passam.

Os amigos,
as noites embebidas de álcool.
O gozo alto,
as brigas.

A tudo isso eu assisti.

Hoje, cansada, eu me guardo sob suas paredes,
ausculto suas paredes.
Escuto um barulho baixo,
um rumor,
um pulso.

Acho que é aquilo que chamam vida.

irascível

hoje eu reaprendi uma palavra nova.
irascível.
ela escapou da minha boca.
era exata para o que eu já sentia,
mais ainda queria saber dizer.
irascível,
eu disse.
então procurei no dicionário,
e com as palavras erradas disse:
acertou na cabeça.
era assim:
1 Propenso à irritação. 2 Que se irrita facilmente.

para se você ainda tiver dúvidas

quantas feiras,
os vinhos e os aperitivos,
as manias de turistas,
ei passado então.


toca o tango da cadência nos anais da solidão,
eu lembro do seu rosto,
ele pulsa na minha mão,
e um pouco mais triste me encontro.
em todas as esquinas o mesmo rosto,
asfalto, espécie de café, restaurantes,
lugares bons,
de cara e fado.

o seu rosto se repete,
em cada mulher que eu penso boa
para a dança ou para o drama,
na cara dos homens e das comidas.

seu rosto enfim disposto,
em tudo aquilo que eu gosto de chamar
vida.

quo

ela se afastava do verão,
eu me aproximava.
entretanto minhas juntas ainda se juntavam em frio,
e ela, aposto, usava vestidos de primavera.

ela tinha me dito, aquele dia,
que sairia do frio materno pras mudanças sorrateiras e leves de uma estação inventada.
lagos proibidos,
mergulhos de roupa e tudo.

seus objetos de repente eram sua casa,
quem imaginaria quais seriam.
os presentes que não pode se dispor,
algo impensável.
vitrola, violão, papel com carta: casa.

saudades

ela me chamava com outra voz. em outro cômodo da casa. a voz de sal da cozinha, a voz mole do corredor.
como uma sombra,
ventania submersa por esses quartos.
na sala pairando silênciosa.
a saudades.

33

ela olhou nos meus olhos e disse que se sentia menos minha.
não foi bem assim, não foram essas as palavras que ela usara.
ela disse algo como "você não quer mais estar comigo", e vi uma tristeza densa nos seus olhos,
um lampejo de refujo, de caverna. Quando eu dizia que me sentia sozinha ela também pensava se tratar dessa espécie de companhia que há entre nós, de uma natureza muito diversa da solidão que reclamo, cheia de outono e de silêncio.
Ela olhou nos meus olhos e adivinhara, pois nada fugia a seus sentimentos.
Não deu tempo de explicar.
Eu não pertencia menos a ela. Eu pertencia menos a mim.

32

Oi meu amigo, pode vir que o tempo é bom. Vamos sentando nesse sofá aí da esquina, a casa ainda é sua. Cê lembra das conversas que tivemos enquanto eu ainda te olhava silenciosamente? Ouvíamos Milton sem nada esperar, olhando-se assim como quem não sabe de quase nada. Vem, pode vir, que por aqui quase nada mudou. Acabou a cerveja, mas acho que tenho chá: preto, jasmim, gengibre. Posso te tocar uma música também, você canta junto comigo e assim a gente pode até vir a se sentir mais junto, unido nisso de estar suspenso em um momento.

31

começa o entardecer.
ninguém mais verá,
ninguém entenderá,
sem os meus olhos e sina.

o sol deixou para sempre a costa,
levando o calor com cada milímetro do seu brilho.
a cor lílas da escuridão tomou conta do dentro e do fora.
as lembranças passando como retratos de outra vida.

a certeza da noite,
a certeza do frio,
embora ainda seja dia.

30

faz tanto tempo que eu não faço um texto que preste. só essas digressões inúteis em primeira pessoa. um estilo porco. como escutar uma música e enxergar luzes verdes e cervejas e velas vermelhas. como não descrever as cores das luzes. enxergar. a violência amargurada num dia de chuva. alguém vem e fuma um cigarro vizinho a sua garganta doente. e sorri pra você. você sorri de volta e imagina seu pé no olho direito do sujeito. imagina os dois dedos abrindo um porão no lodo grosso do jardim. sempre confundo sotão com porão. espaços escusos, de erotismo infantil. boas lembranças, frutas cristalizadas, beijos embaixo dos móveis, balinhas da vovó.

29

ela acariciava o veludo da minha calça silenciando a vida que corria fora da nossa persiana.
a noite chegava com seus braços fortes,
escondida atrás da lua.
a luz amarelada do nosso único lustre descia nos tocando lentamente.
o gato espalhando seus pelos invisíveis pelo ar,
defendido fingindo não saber.
a noite passava e eu a guardava sem sono em imagens sem som.

28

Sol porque é redondo e trás com a cor amarela o assombro da alegria.
Lua porque é água branca, em crateras que são mares.
O dia e a noite que formam o dia.
Luz amarela e luz branca,
alegria e descontrole.
Com a sobriedade a roda mãe se movimenta
levando a cima e a baixo as águas do mundo.
Com a ebriedade nada é útil
a lei é a ética do peito
e sem acordo,
durmo com o peito pesado.

27

eu não lembro de ter escrito tudo isso.
eu não lembro de ter vivido tudo isso.
quem subutilizou esse corpo para tanto?
eu sei que estava ocupada demais olhando para o céu.

26

eu queria te escrever algo bonito,
pra você ler se fosse um momento triste
ou se fosse um momento morto,
e sorrir sozinha numa sala pequena em relação ao mundo.

eu queria te escrever algo que tivesse o discreto aproximar-se de um abraço
e o mesmo calor involuntário.

eu queria palavras que retribuissem a doçura de você ter cuidado de mim ontem.
queria te mostrar como anda o carinho que sinto por você.

queria te traduzir em mar
e em sexo.
dormir com você sem trepar porque também é carinho.
dar um beijo de boa noite e um de bom dia
(como se a noite não tivessemos nos perdido em tantos labirintos escuros).

queria ter um jeito absoluto de viver isso que a gente tá vivendo e tá sendo tão bom,
mesmo sabendo que nada é melhor do que simplesmente viver.

viver hoje e com você.

25

meus olhos se viram para esse lado por nada menos que sua dor e desespero.
ou por sua felicidade.

24

naquele ser quente que se aninhava nos meus músculos.

23

ansiedade e alegria.
euforia.
depois um toque de cinza nos cantos desse retrato.
a tristeza e a solidão.
em nada a vida,
que não contem tais emoções,
mas sim o tédio, e o medo.

22

dirigir o carro pela cidade razante ouvindo músicas e deslizando nesse esturpor concha do mar. era nesse momento que num movimento fixo eu te gostava. era nessa felicidade barata de um minuto ou mais que eu acreditava ver inteira a vida. era por te desconhecer. era pela liberdade. pelo poder e pelo poder não ser.

21

o nada ou muito pouco daquilo contendo tudo.

20

ele era manso e incisivo. tinha maneiras difíceis, e emoções transparentes. ele, naquela noite, naquela temperatura, estava confortável ajoelhado no chão, conversando com alguém improvável. ele provavelmente punha suas opiniões de uma forma estranha, e causava um embaraço carinhoso. ela estava bêbada. ela, provavelmente, estava perdida. ela, naquela noite, naquela temperatura, tinha perdido. chegou por trás daquela conversa rarefeita, sem sequer pedir licença, beijou-o no pescoço, e pondo a mão dentro da calça dele alcançou seu pau, cansado daquela presença desesperada. ele e ela. naquela noite. naquela temperatura.

19

Essa noite perdi-me.
Tantas vezes a cama mudou de tamanho,
por vezes enorme oceano (a me enganar com suas tormentas),
por vezes reduto deserto.
Conheci vozes novas (que pareciam sair do peito),
a me lançar novos enigmas.
Senti a solidão de uma hora parada.

O tempo passou em horror,
e a escuridão secou meu suor.

Num abraço inventado para essa noite adormeci.

18

Meus olhos se embotam dessa depressão outonal.
Mortalha calada sob todas as coisas.
Espero o calor que possa vir ao peito.
Passo o dia sem nada,
sei que esse vazio é cheio.

17

acessar  o instinto,
por onde encontrar o desejo,
para que possa ter um olhar mais fundo.

16

voltas.
dias de espera.
comprimentos ao mensageiro.
à soleira vazia.
e ao vento.

15

o casal se dá as mãos e passa
passa pelos meus olhos.
o dia envelhece enquanto 
os meninos.
as frutas maduras nas certas estações,
um certo medo da chuva.
nesse inverno de maio,
você poderia me dar as mãos?

14

sinto sei vivo
palavras vazias pra começos de conversa.
dia tempo espaço
clichês inevitáveis num diálogo.
a realidade desse momento,
que vivido parece pouco,
afoga todos artifícios.
amplidão de um ser que se esquece de pensar.

13

escrevo mal.
existo mal.
essas coisas conversam,
fico sem assunto.

essa velha garganta dói dos mesmos assuntos.
os olhos se espremem deixando cair umas lágrimas mansas,
umas lágrimas secas, vazias,
umas lágrimas sem assunto.

acabou o grande projeto,
uma espécie de azul,
mãos passam entre os cabelos
como um banho gelado por sob o azulejo.

tem música no mundo de sobra tem,
num violão, um pouco de canto, de ternurna tem.
nessa melodia porém, tristeza vai e diz a ela,
também tem.

essa escuridão de apertar um peito de medo,
estrelas que furam os olhos
com seus pequenos pontos de finco.
e as saudades...

só agora te contei,
esse é meu assunto.

12

as cordas do meu coração
cheias de pó
de esquecimento.

o cheiro do alcool me alonga a vista
me puxa os olhos.

sinto essa sua mão que me leva
e respeita os limites do meu corpo.
sinto uma música que me transporta
me fecha os mesmos olhos.
por vezes paro de querer
e parto a ser
a ser-mos
como tão bem soubemos ser,
tão bem,
nós dois.

11

merecimento.

10

não vejo coragem nessas pernas.
estão secas e úmidas,
na pior temperatura.

entramos em uma espécie de outono cruel,
o vento cortanto os rostos,
as mãos nos bolsos,
os ombros arqueados.

sinto dentro do peito uma neve espessa,
uma neve acumulada dos infalíveis erros que cometi.
tantos, e tão vazios.

erros espessos me enchem de medo.

enquanto isso deixo o outono perpassar o meu umbral.
com as mãos nos bolsos,
os ombros arqueados.
ficarei na solidão.

9

algo se perde.
algo está sempre se perdendo.
o ar que eu respiro peca um pouco,
em perder tanta umidade.
os sonhos passam projetados nos meus olhos,
sonhos que já esqueci,
vividos sem memória,
mas não sonhos perdidos.

o tempo que passa vejo
no meu corpo que muda.
no meu corpo que acorda.
acorda dessa doença rara.

me percebendo no ar que respiro continuo a me deparar com essa invisível matéria
que se perde
e continua se perdendo.

assim como a amiga que perdi a tempos atrás e que hoje me lembro com uma antiga saudades.
como as cicatrizes do meu corpo que deixaram de doer bem aos poucos.
algo se perde
no movimento.

no tempo a água evapora,
sua marca permanece.

8

o tempo passa 
e de repente toda aquela água
evaporou.

7

eu sussurro seu nome na escuridão dessa tarde, mas ele não me leva a você. Acordamos, dormimos, tantas vezes. Os dias se misturaram, se dissolveram neles tudo o que havia de certo. Essa umidade que nos é alcançada como um lodo denso, dia após dia, se perdendo nesse barro antigo. De nos entrevar nessa terra, abrimos os olhos, metros, metros abaixo, e nos reconhecemos.
E foi assim que me esqueci.
Esqueci seu nome.
Pois o chamaria quando me perdesse.
Perdi-me nessa escuridão sem um nome.
Meus olhos embotados de breu.
O sangue que ainda corre lento,
subindo impossíveis falésias,
a pele pálida.

6

Ele apareceu de lugar nenhum no horário combinado,
com sua timidez agressiva e o cabelo desgrenhado.
Vi seus dentes sujos e perguntei,
como quem sabe segredos bem guardados,
se ele estava triste.
Disse-me que não
e virou um pássaro.

Eu sabia como tudo lhe doia,
e que naquele dia não lhe era possível uma vida de doçura.
Eu sabia,
e vi sol batendo suavemente em suas asas.

5

acordei com uma espinha bem no meio dos dois seios. uma espinha pungente. uma espinha espinhuda. acordei e mergulhei o pé nesse poço de água fria, dessa água feita de neblina. sem espelho, com reflexo. deslizei meus velhos pneus pela cidade. pelas ruas caucasos indigentes. pelos meus vícios de linguagem, pelas linguas, pelas pessoas de passagem. enchi minha mala de livros e arrumei meu lenço escuro. fui a mil enterros invisíveis. nas paisagens fiz festinha nas suas bochechas. senti saudades na tua presença. amarraram-me as mãos com um beijo nos olhos. sem tempo para os lados me mantive sempre a frente. acordei. novamente acordei. hoje acordei diferente.

4

te tinha por inteiro na minha cama como quem acaba de descobrir o ar e respira profundamente e seco. como quem mergulha e não vê o sol, intuindo as atmosferas rasas. te tendo num mesmo pulsar como quem não planeja e tem o sexo artéria respirando uma matéria nova poesia bruta, melancolia suor e fruto. gozar pra inventar um céu pra te deitar quando a noite vem. ajeitar as nuvens em uma perspectiva justa, identificar as cores, conversar com o tempo.
entrar nos olhos e mais uma vez apaixonar-
me como quem perde a razão.

3

a menina tinha 17 anos quando os pais a decidiram casar. ela meio pãozinho recém saído do forno, o noivo cheio de olheiras. casaram-se na marquise, no dia 21 de fevereiro de 1934. no dia 4 de outubro, libriana, nascia Maria Eugênia. desde cedo já gostava de brincadeiras estranhas, enquanto os primos se reuniam no quintal para brincar de pique esconde, ela se perdia pelos corredores da casa colecionando botões perdidos. quando fez 13 anos ainda não tinha nenhum amigo, mas para efeito de compensação havia reunido mais de 300 botões. vermelhos, de madre-pérolas, uns bortudos, de madeira, pequeninos de alumínio, etc. os anos passaram e impreterivelmente com eles, a vida. para Maria Eugência a lógica continuava a mesma: não precisava de casas, para os botões que já dispunha.

2

estalactites de concreto na casa do conhecimento.
rampas amplas,
terreno vasto.
suicídios contemporâneos.

te espero ao pé da escada,
no lugar de flor
na mão levo cigarro.

1

"responsáveis pelo trânsito." Botão 4. Botão 5. Botão 1. Botão 2. CD. Elis Regina tem gosto de usado. Às vezes no meio da marginal tem medo de que não seja adequada ao trânsito. Tem medo de estar vivendo uma alucinação, e que outras pessoas paguem por isso. O fluxo da marginal é intensamente hipnótico. as faixas brancas se somam, e a velocidade constante embala. um ou outro motoboy aleatoriamente te lembra do valor da vida. shows dispensáveis, multidões nos serviços públicos. discorrer sobre você e ainda é hora do almoço. hora de chegar em casa e comer arroz e feijão com todo o resto. quem derá a vida fosse arroz com feijão.
vai bem com tudo.